quinta-feira, 30 de julho de 2020

Metamorfose do desejo

minha mente sambando
fica claro que tudo é infinito
depois do fim dos desejos
as necessidades superiores
e lá vem o desejo divino
lá se vai o desejo humano
mas, veja, o desejo não foi
pra lugar algum

Tempo brota vida

ela me falou esse tempo todo
dar dor de sentir errada
e por várias vezes me pediu que não a reprimisse
mas eu não via, estava cega, surda
mesmo agora a incerteza vem me atacar
eu precisando estar certa do que vai acontecer
eu sempre preciso saber
ela foi meu anjo da guarda
me deu o que beber
me deu remedios e hospitais
semana adentro
me deu comida, amor, carinho
foi apenas minha mãe
e queria ser apenas minha mulher
com tanta coisa pra me preocupar
achei menos importante
todos os desejos, todos os carinhos
todos os beijos sem sabor
sem alcool
e de repente viu um outro sonho se aproximar
ser mãe, ser mulher de alguém
então ela pulou
pulou atrás de mais amor, mais honestidade
menos paranoias, mais beijos, mais abraços
ahh os abraços, foram tantos
eu fingia não gostar, mas era meu cobertor
eu sempre durmo com coberta, mesmo no calor
eu sempre uso blusas de manga longa
por que eu gosto de abraços
mas e ela?
ela me deu uma nova chance
eu nem sei se é real, mas vou fingir que sim
mas quero não mais reprimir
eu quero mais amor, mais honestidade
com tantos erros, ser honesta assusta
eu quero mais familia, mais tios e avós
continuo querendo uma vida melhor
acho que isso não vai parar, mas deveria rs
eu quero mais mãe, mais amiga, mais mulher,
mais dele, mais do nosso
meu filho já é imortal,
é o todo de mim
meu principe pra cuidar, meu anjo pra abraçar
minha nova meta..rs
meu novo lar

sábado, 12 de maio de 2018

A coceira

“Estou coçando de vontade de fazer isso…” A coceira é sentida como um estímulo. Esse estímulo pode ser bom ou ruim.
 A coceira física mostra que alguma coisa está nos arranhando ou estimulando no âmbito psíquico. No entanto, ignoramos ou nos recusamos a vê-la, caso contrário ela não teria de se somatizar como um acesso de coceira. Por trás do desejo de se coçar  existe uma paixão, um fogo interior, uma emoção.
 O desafio é coçar pelo tempo que a consciência precisar, até descobrirmos o que é que a instiga, incomoda, precisa de limites, até encontrar aquilo que precisa vir para fora.”

terça-feira, 8 de maio de 2018

Congresso Internacional do Medo (Drummond)

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas


Drummond de Andrade

terça-feira, 6 de março de 2018

Previsível

Ela me ligou
com aquela voz que não diz nada
com um interesse sei lá de quê
é como se não soubesse conversar
e nem abraçar

não sei o que devo fazer
já que a próxima ligação
deve ser minha
talvez eu também não saiba
o que dizer

mas certamente não será numa terça
1 hora depois do fim da sessão
será que ela achou
que eu iria aparecer?

provalvemente.
eu devo ser
muito previsível

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

O ave(r)sso do divã

20/02/2018 8:18h

Hoje foi meu último encontro com a Ela. Estava brava comigo. Disse sem dizer que sou egoísta e bruta. Que de onde Ela vem não se vai embora com um simples tchau depois de 5 anos. 
Estava brava...
Mas algo melhor me chamou atenção. Ainda não sei se era apenas o impulso natural de querer me punir ou se de fato ela me acha uma completa Idiota.
Supôs que eu estivesse trocando-a por outro. Quem sabe não era o terapeuta da outra. Talvez eu quisesse alguém com um jeito mais sei lá o quê. Acho que esse foi o único momento em que o meu deboche foi autêntico. Me ofendi.
Depois falou que talvez eu não a achasse muito boa para me atender. Ou que eu quisesse chamar atenção. O que eu não soubesse lidar com despedidas. Ou que gosto de decidir tudo sozinha... Ter o controle. Ou ter me chateado. Sabia que eu não tinha decidido ontem,  mas gostaria de saber o motivo de eu não levar o assunto pra pauta de algum dia. E desandou a dizer que não deixo claro as coisas que sinto ou penso. Gosto de códigos que só eu entendo. Me enfureci, mas fingi indiferença. Comecei a suplicar a minha estúpida memória qualquer lembrança que pudesse me honrar. Mas não veio nada. Os olhos dela diziam: - Você não tem argumentos! O sorriso - Eu estou brava!
Já no final tarde eu fiquei pensando no dia em que me pediram para não agradecer pelos e-mails respondidos, em uma forma de (fingida) humildade. Ele nunca responde os emails que precisam de respostas. Eu não disse a ele o real motivo dos agradecimentos, mas achei que fosse óbvio que emails com perguntas (não retóricas) exigem respostas. Talvez tenha sido arrogante ao me calar e apenas observá-lo, mas me senti ofendida em ter de explicar isso para um homem de 50 anos.
Trouxe o Thanatos, Perséfones, Hades. Fez chacota, colocou a culpa em mim de tudo, fez cara de temperança e a cada retomada uma nova causa para minha decisão. Guardou as causas escabrosas para Si. Mas o que importa mesmo é que em todas as hipóteses Dela eu era o personagem Idiota. Ok. Segue o baile.
No geral acho que foi isso que ela quis dizer o tempo todo quando me entregava o "feedback" sobre minhas atitudes para que eu pudesse me vigiar "lá fora": - Você é uma grande idiota. Não respeita as relações e suas cerimônias. Age como uma ébria selvagem quando lhe convém!
Bom.. Não conseguiu me ofender. Quem não respeita as relações são eles com seus rituais e normas. Até simpatizo com seus bravejos, mas não suporto seus fingimentos. Relevo. Além do mais, tratava-se de um raro momento em que Ela reagiu visivelmente irritada. Agiu sem norma. A segunda vez em 5 anos. Curiosamente nas duas vezes ela se defendia da hipótese em que eu estaria tentando colocá-la a prova como profissional. Hipótese secreta que seu sorriso por vezes jocoso denunciava.