sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

O ave(r)sso do divã

20/02/2018 8:18h

Hoje foi meu último encontro com a Ela. Estava brava comigo. Disse sem dizer que sou egoísta e bruta. Que de onde Ela vem não se vai embora com um simples tchau depois de 5 anos. 
Estava brava...
Mas algo melhor me chamou atenção. Ainda não sei se era apenas o impulso natural de querer me punir ou se de fato ela me acha uma completa Idiota.
Supôs que eu estivesse trocando-a por outro. Quem sabe não era o terapeuta da outra. Talvez eu quisesse alguém com um jeito mais sei lá o quê. Acho que esse foi o único momento em que o meu deboche foi autêntico. Me ofendi.
Depois falou que talvez eu não a achasse muito boa para me atender. Ou que eu quisesse chamar atenção. O que eu não soubesse lidar com despedidas. Ou que gosto de decidir tudo sozinha... Ter o controle. Ou ter me chateado. Sabia que eu não tinha decidido ontem,  mas gostaria de saber o motivo de eu não levar o assunto pra pauta de algum dia. E desandou a dizer que não deixo claro as coisas que sinto ou penso. Gosto de códigos que só eu entendo. Me enfureci, mas fingi indiferença. Comecei a suplicar a minha estúpida memória qualquer lembrança que pudesse me honrar. Mas não veio nada. Os olhos dela diziam: - Você não tem argumentos! O sorriso - Eu estou brava!
Já no final tarde eu fiquei pensando no dia em que me pediram para não agradecer pelos e-mails respondidos, em uma forma de (fingida) humildade. Ele nunca responde os emails que precisam de respostas. Eu não disse a ele o real motivo dos agradecimentos, mas achei que fosse óbvio que emails com perguntas (não retóricas) exigem respostas. Talvez tenha sido arrogante ao me calar e apenas observá-lo, mas me senti ofendida em ter de explicar isso para um homem de 50 anos.
Trouxe o Thanatos, Perséfones, Hades. Fez chacota, colocou a culpa em mim de tudo, fez cara de temperança e a cada retomada uma nova causa para minha decisão. Guardou as causas escabrosas para Si. Mas o que importa mesmo é que em todas as hipóteses Dela eu era o personagem Idiota. Ok. Segue o baile.
No geral acho que foi isso que ela quis dizer o tempo todo quando me entregava o "feedback" sobre minhas atitudes para que eu pudesse me vigiar "lá fora": - Você é uma grande idiota. Não respeita as relações e suas cerimônias. Age como uma ébria selvagem quando lhe convém!
Bom.. Não conseguiu me ofender. Quem não respeita as relações são eles com seus rituais e normas. Até simpatizo com seus bravejos, mas não suporto seus fingimentos. Relevo. Além do mais, tratava-se de um raro momento em que Ela reagiu visivelmente irritada. Agiu sem norma. A segunda vez em 5 anos. Curiosamente nas duas vezes ela se defendia da hipótese em que eu estaria tentando colocá-la a prova como profissional. Hipótese secreta que seu sorriso por vezes jocoso denunciava. 

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