da decadência doce em se fingir de forte
do forte bélico eu fui aspira
invadiu meus sonhos para confundir minha dor
me atordoou.
eu vi os demônios da enganação
eles vestiam branco
e juravam lealdade a deus
com as mãos cravadas
estancavam o sangue
enquanto doavam migalhas
aos que tinham fome
eu vi
foi tarde da noite
o céu girava em desatino
tambores e violinos anunciavam o grande dia
o alvorecer dos desgraçados
a grande marcha da desolação
meu sangue vinha do parto
dos órfãos da cidade adoecida
enquanto eu tentava entender o porquê
o espírito santo me soltou as mãos
e caí eternamente em um penhasco de loucura
o vento como tempestade
invadiu meu peito
e sem rejeito vi minha alma pálida
quis respirar e não houve espasmo
quis beber e não houve sede
quis gritar e já não havia dor
era o vácuo agora maestro
regendo um coro tímido
de grave tilintar
ti-rim, ti-rim, lará, lará
e há quem veja compasso
nesse gélido grito rouco
que somente os fracos hão de ouvir
como no desesperado apelo de Rimbaud
eu peço piedade, eu peço perdão por mim
"Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi"