minha angústia grita alto
parece fazer pirraça
não se conforma com esse mundo
que insiste em provar o contrário
daquilo que estava previsto.
por mim, claro!
quanto mais respiro
mas fundo eu avanço
não lembro bem
quem deu o pontapé
mas afoguei
agora luto para
não ser um corpo
pálido e gélido
na areia de qualquer praia
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
Julieta
e lá vem ele
já não consegue esconder tanta feminibilidade
almodóvar!
eu já não vou muito bem
há tanto tumulto dentro de mim
que já já transbordo
e não faço ideia do que acontecerá
ontem, por um triz, eu não transbordei
o filme apresenta uma mulher linda
inteligente e humana
cheia de medos e confusões
a vida parece-lhe testar
sem piedade, sem explicação
primeiro sua impaciência
suicida um homem desconhecido
em seguida
seu ciúme coloca o homem da sua vida
na berlinda da vida. e ele vai
mas por sorte ou azar
ele deixa uma filha
amorosa, cuidadosa, linda
e apaixonada pela vida
e ela a abandona
antes a tivesse matado
é sofrimento de grosso calibre
do início ao fim
no entanto, a clareza com que trata
aquilo que é inevitável
chega ser irritante
e por várias vezes eu pensei:
essa mulher que vive em almodóvar
é a mesma que vive em mim
como a dor de chico buarque
que parece tanto com a minha
almodóvar não entrega nada inédito
a condição humana, o sofrimento e o peso da existência
as relações secretas, tão necessárias quantas as públicas
e expõem a inexorabilidade do amor
o amor nada tem haver com a moral
o amor tem haver com a vida
que ignora a moral e exige cumprimento
daquilo que ninguém concordou
como tudo aquilo que não se explica
o tesão, a paixão, o afeto, a ausência e a saudade
tudo que impulsiona, retrai
almodóvar nos entrega suas cores
que, para mim, são as nossas fantasias
para deixar a vida mais suportável
a vida é dura como uma rocha
as causas-consequências são seus fluxos
frios e letais. nada passa ileso
só nos resta a arte, para apimentar essa salada sem sabor
só nos resta pôr cor nesse mundo cinza
de emoções cinzas, de fatos escuros
só nos resta a gentileza de quem nos quer mal
ou daqueles que querem apenas sorrir no final
por que as lágrimas... ahh, elas não nos faltarão
O desabrochar da Intuição
no último sábado eu fui assaltada
por volta das 23h na rua da minha casa
duas meninas, drogadas, apavoradas,
com a adrenalina à mil (como eu queria sentir isso)
me abordaram com se tivessem intimidade
me tocavam com leveza,
em todas as partes
como se não quisessem machucar
e não queriam, não o fizeram
não tive medo, não tive raiva, não tive nada
somente fantasias de como as coisas poderiam ter sido
o velho hábito de querer que a vida siga nosso roteiro
mesmo sabendo que ela não vai seguir
hoje, segunda-feira, semana do carnaval de 2017
eu lembrei
lembrei que eu já sabia
estava com mal pressentimento havia uns dois meses
algo em mim dizia: - você será assaltada. precisa se preparar
E me preparei
Reduzi as vezes em que levava o notebook para casa
na mochila, por que eu iria caminhar de noite
não era seguro
fiz backup de todos os projetos
em meu velho notebook
para isso tive de encarar uma santa ifigênia
cheia, barulhenta e suja
num sábado de manhã
me valeu uma intoxicação
passei a trancar a porta de casa (secretamente)
deixei de usar o celular enquanto caminhava
a mochila, puxei para frente
até que me acomodei
eu fiz tudo o que não poderia fazer ao mesmo tempo
bebi, fumei, saí para pedalar
com o celular e o fone de ouvidos
um bracelete e o arrependimento
de não levar o cartão: tive muita sede no caminho
é verdade que me blindei de várias formas inúteis
afinal, eu sabia que iria acontecer, mas não sabia como nem quando
quando aconteceu, eu não estava com minha blindagem
mas a certeza de que aquilo era inevitável
fez com que eu não sentisse nada. e foi bom assim
é a segunda vez que me ocorre
um pressentimento nos últimos seis meses
pelo menos de que tenho lembrança
eu sempre vi glória nesta condição feminina
uma espécie de força e privilégio
mas agora eu não sei se é
saber o que vai acontecer
é insuportável, mas parece imprescindível
no entanto...
imagina se, num desses pressentimentos,
a intuição me diz que eu terei de deixar ir
alguém que amo?
será que eu começaria a arrumar as malas?
a dele ou a minha?
de qualquer forma, seria duro demais.
por volta das 23h na rua da minha casa
duas meninas, drogadas, apavoradas,
com a adrenalina à mil (como eu queria sentir isso)
me abordaram com se tivessem intimidade
me tocavam com leveza,
em todas as partes
como se não quisessem machucar
e não queriam, não o fizeram
não tive medo, não tive raiva, não tive nada
somente fantasias de como as coisas poderiam ter sido
o velho hábito de querer que a vida siga nosso roteiro
mesmo sabendo que ela não vai seguir
hoje, segunda-feira, semana do carnaval de 2017
eu lembrei
lembrei que eu já sabia
estava com mal pressentimento havia uns dois meses
algo em mim dizia: - você será assaltada. precisa se preparar
E me preparei
Reduzi as vezes em que levava o notebook para casa
na mochila, por que eu iria caminhar de noite
não era seguro
fiz backup de todos os projetos
em meu velho notebook
para isso tive de encarar uma santa ifigênia
cheia, barulhenta e suja
num sábado de manhã
me valeu uma intoxicação
passei a trancar a porta de casa (secretamente)
deixei de usar o celular enquanto caminhava
a mochila, puxei para frente
até que me acomodei
eu fiz tudo o que não poderia fazer ao mesmo tempo
bebi, fumei, saí para pedalar
com o celular e o fone de ouvidos
um bracelete e o arrependimento
de não levar o cartão: tive muita sede no caminho
é verdade que me blindei de várias formas inúteis
afinal, eu sabia que iria acontecer, mas não sabia como nem quando
quando aconteceu, eu não estava com minha blindagem
mas a certeza de que aquilo era inevitável
fez com que eu não sentisse nada. e foi bom assim
é a segunda vez que me ocorre
um pressentimento nos últimos seis meses
pelo menos de que tenho lembrança
eu sempre vi glória nesta condição feminina
uma espécie de força e privilégio
mas agora eu não sei se é
saber o que vai acontecer
é insuportável, mas parece imprescindível
no entanto...
imagina se, num desses pressentimentos,
a intuição me diz que eu terei de deixar ir
alguém que amo?
será que eu começaria a arrumar as malas?
a dele ou a minha?
de qualquer forma, seria duro demais.
sábado, 18 de fevereiro de 2017
Na rua
Quantos vemos um estranho nos observando,
desejamos intimamente que ele nos leia
ou que pelo menos
não nos julgue mal.
desejamos intimamente que ele nos leia
ou que pelo menos
não nos julgue mal.
A revolução (re)iniciou
A corrupção e a completa indiferença ao povo criou uma massa ignorante e pobre.
A pobreza tirou a esperança e criou revolta.
A revolta criou oportunidades no crime.
O aumento da criminalidade criou a necessidade de mais policiamento.
Cresce a repressão truculenta, aumenta o poder de fogo da bandidagem.
A policia perde completamente o respeito dos favelados e dos maconheiros da PUC,
que vire e mexe são interpelados na saída da rocinha.
Os policiais são os pobres que aprenderam a ler
e interpretar texto de forma básica.
Passaram num concurso público medíocre e com isso ganharam armas
e a plausível ilusão de poder absoluto.
O policial acredita que todos os outros meninos
que cresceram com ele naquele bairro vagabundo (de onde ele não sai)
teriam as mesmas condições de criar uma nova realidade (como ele fez entrando para a polícia).
A apesar de acreditar secretamente de que ele próprio trata-se de algum tipo de gênio,
e que a prova de admissão é difícil demais pra ralé passar.
Como dispõe da mesma moral dos pivetes de seu bairro,
ele começa a se corromper na corporação.
Ganhando pouco e com uma vontade louca de se diferenciar na vizinhança,
ele passa a cobrar propina de viciados e bêbados madrugadas afora (como fazem as putas).
Afinal de contas, a Polícia paga muito mal para "Proteger" a vida.
Não é mesmo, Doutor?
No fundo ele odeia o fato de ter de baixar a cabeça para o patrão
e descarrega sua ira no preto macaco filho da puta que está vendendo cocaína
...indevidamente
...para o maldito playboy viciado.
Isso eu não posso falar para o doutor... é filho dele.
Agora graduado na rua,
ele se torna o algoz da comunidade.
- A macacada faz dinheiro no morro. É lá que vou ganhar o meu.
O policial vira classe média com o tráfico de drogas e com as propinas nas blitzes.
Ah... os favelados.
Se tivessem educação em administração e capacidade de planejamento, fariam da favela, Dubai.
Enquanto isso, a classe media intelectualizada vai ao desespero com o aumento da violência
nas cidades, onde a população pareceu se acostumar.
- É só fechar os vidros; - não ande nas ruas de noite; - não use celular na via pública.
Estão acostumados. Tão acostumados como os favelados que já não correm de tiroteios.
Com a incapacidade de reação do povo, que é historicamente passiva, a corrupção já é oceânica.
Em meio a esse caos cego, o Brasil parece ter chegado no seu limite, é uma bomba e está com
seu pavio incendiado.
Uma tal de lava jato mexeu no palito que equilibrava a porra toda.
Enfim..
Enquanto o menino berra por liberdade no metrô de São Paulo, a população furiosa com essa
mania que nego tem de achar que pode ser livre em sociedade, gritam inflamados por mais mortes.
Mortes nos presídios, mortes nas lojas saqueadas, morte aos pretos traficantes.
A juventude, pouco acostumada à crise, bate boca como todo bom adolescente.
Como não aprenderam a pensar, demoram em encontrar soluções para problemas urgentes.
Falam como matracas sobre assuntos que nunca assuntaram, mas já têm opinião formada.
As famílias dos policiais resolveram fechar os quartéis e entregaram a população ao ódio.
Já temos mais algumas dezenas para a conta de 2017. E só estamos em fevereiro.
Os policiais, acostumados a truculência, estranhamente se negam a jogar bombas de gás e balas de borracha.
Que estranho (sqn).
Meia dúzia de gato pingado provocou uma chacina em horário nobre na terra do Espírito Santo
em fevereiro de 2017, mês do carnaval.
Neste momento, o responsável por controlar a porra toda está sendo indicado ao STF, vejam que coisa.
Dizem que é por mérito.
Cada povo, uma moral.
Fazer o quê?
A pobreza tirou a esperança e criou revolta.
A revolta criou oportunidades no crime.
O aumento da criminalidade criou a necessidade de mais policiamento.
Cresce a repressão truculenta, aumenta o poder de fogo da bandidagem.
A policia perde completamente o respeito dos favelados e dos maconheiros da PUC,
que vire e mexe são interpelados na saída da rocinha.
Os policiais são os pobres que aprenderam a ler
e interpretar texto de forma básica.
Passaram num concurso público medíocre e com isso ganharam armas
e a plausível ilusão de poder absoluto.
O policial acredita que todos os outros meninos
que cresceram com ele naquele bairro vagabundo (de onde ele não sai)
teriam as mesmas condições de criar uma nova realidade (como ele fez entrando para a polícia).
A apesar de acreditar secretamente de que ele próprio trata-se de algum tipo de gênio,
e que a prova de admissão é difícil demais pra ralé passar.
Como dispõe da mesma moral dos pivetes de seu bairro,
ele começa a se corromper na corporação.
Ganhando pouco e com uma vontade louca de se diferenciar na vizinhança,
ele passa a cobrar propina de viciados e bêbados madrugadas afora (como fazem as putas).
Afinal de contas, a Polícia paga muito mal para "Proteger" a vida.
Não é mesmo, Doutor?
No fundo ele odeia o fato de ter de baixar a cabeça para o patrão
e descarrega sua ira no preto macaco filho da puta que está vendendo cocaína
...indevidamente
...para o maldito playboy viciado.
Isso eu não posso falar para o doutor... é filho dele.
Agora graduado na rua,
ele se torna o algoz da comunidade.
- A macacada faz dinheiro no morro. É lá que vou ganhar o meu.
O policial vira classe média com o tráfico de drogas e com as propinas nas blitzes.
Ah... os favelados.
Se tivessem educação em administração e capacidade de planejamento, fariam da favela, Dubai.
Enquanto isso, a classe media intelectualizada vai ao desespero com o aumento da violência
nas cidades, onde a população pareceu se acostumar.
- É só fechar os vidros; - não ande nas ruas de noite; - não use celular na via pública.
Estão acostumados. Tão acostumados como os favelados que já não correm de tiroteios.
Com a incapacidade de reação do povo, que é historicamente passiva, a corrupção já é oceânica.
Em meio a esse caos cego, o Brasil parece ter chegado no seu limite, é uma bomba e está com
seu pavio incendiado.
Uma tal de lava jato mexeu no palito que equilibrava a porra toda.
Enfim..
Enquanto o menino berra por liberdade no metrô de São Paulo, a população furiosa com essa
mania que nego tem de achar que pode ser livre em sociedade, gritam inflamados por mais mortes.
Mortes nos presídios, mortes nas lojas saqueadas, morte aos pretos traficantes.
A juventude, pouco acostumada à crise, bate boca como todo bom adolescente.
Como não aprenderam a pensar, demoram em encontrar soluções para problemas urgentes.
Falam como matracas sobre assuntos que nunca assuntaram, mas já têm opinião formada.
As famílias dos policiais resolveram fechar os quartéis e entregaram a população ao ódio.
Já temos mais algumas dezenas para a conta de 2017. E só estamos em fevereiro.
Os policiais, acostumados a truculência, estranhamente se negam a jogar bombas de gás e balas de borracha.
Que estranho (sqn).
Meia dúzia de gato pingado provocou uma chacina em horário nobre na terra do Espírito Santo
em fevereiro de 2017, mês do carnaval.
Neste momento, o responsável por controlar a porra toda está sendo indicado ao STF, vejam que coisa.
Dizem que é por mérito.
Cada povo, uma moral.
Fazer o quê?
Resiliência intelectual
É quando,
após o forte golpe de uma ideia estrangeira,
sua mente recusa-se a se liquefazer
diante da possibilidade iminente de admitir outra forma.
Sua vontade urge em recobrar sua primeira forma.
após o forte golpe de uma ideia estrangeira,
sua mente recusa-se a se liquefazer
diante da possibilidade iminente de admitir outra forma.
Sua vontade urge em recobrar sua primeira forma.
Reflexões de Sábado à tarde II
Analogamente,
a pós-verdade
não seria as sombras da caverna de Platão?
a pós-verdade
não seria as sombras da caverna de Platão?
reflexões de sábado
parece que o diabo assumiu o controle do mundo e começou a criar viado e sapatão.
mas.. para onde será que ele enviou deus?
mas.. para onde será que ele enviou deus?
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
Baudelaire
Embriagai-vos!
Deveis andar sempre embriagados. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso.
Mas, com quê? Com vinho, poesia, virtude. Como quiserdes. Mas, embriagai-vos.
E si, alguma vez, nos degraus de um palácio, na verde relva de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, despertardes com a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo que gene, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão:
- É a hora de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos! Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia, virtude! Como quiserdes!
Charles Baudelaire
Deveis andar sempre embriagados. Tudo consiste nisso: eis a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos quebra as espáduas, vergando-vos para o chão, é preciso que vos embriagueis sem descanso.
Mas, com quê? Com vinho, poesia, virtude. Como quiserdes. Mas, embriagai-vos.
E si, alguma vez, nos degraus de um palácio, na verde relva de uma vala, na solidão morna de vosso quarto, despertardes com a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo que gene, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão:
- É a hora de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos! Embriagai-vos sem cessar! Com vinho, poesia, virtude! Como quiserdes!
Charles Baudelaire
Meu último treinamento
ele sempre faz do meu mesmo jeito:
faço uma piada
o cara ao lado rir
ele não estava a fim daquilo
há um tempo
então surge uma expressão popular
ele pensa em uma desculpas
mas sabe que não há para onde fugir
eu posso já sinto o cheiro da vergonha
então eu penso
e se eu estivesse no lugar dele,
o que faria?
concluo que qualquer coisa,
menos o silêncio constrangedor
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
AO LEITOR
AO LEITOR
A tolice, o pecado, o logro, a mesquinhez
Habitam nosso espírito e o corpo viciam,
E adoráveis remorsos sempre nos saciam,
Como o mendigo exibe a sua sordidez.
Fiéis ao pecado, a contrição nos amordaça;
Impomos alto preço à infâmia confessada,
E alegres retornamos à lodosa estrada,
Na ilusão de que o pranto as nódoas nos desfaça.
Na almofada do mal é Satã Trimegisto
Quem docemente nosso espírito consola,
E o metal puro da vontade então se evola
Por obra deste sábio que age sem ser visto.
É o Diabo que nos move e até nos manuseia!
Em tudo o que repugna uma jóia encontramos;
Dia após dia, para o Inferno caminhamos,
Sem medo algum, dentro da treva que nauseia.
Assim como um voraz devasso beija e suga
O seio murcho que lhe oferta uma vadia,
Furtamos ao acaso uma carícia esguia
Para espremê-la qual laranja que se enruga.
Espesso, a fervilhar, qual um milhão de helmintos,
Em nosso crânio um povo de demônios cresce,
E, ao respirarmos, aos pulmões a morte desce,
Rio invisível, com lamentos indistintos.
Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.
Em meio às hienas, às serpentes, aos chacais,
Aos símios, escorpiões, abutres e panteras,
Aos monstros ululantes e às viscosas feras,
No lodaçal de nossos vícios imortais,
Um há mais feios, mais iníquo, mais imundo!
Sem grandes gestos ou sequer lançar um grito,
Da Terra, por prazer, faria um só detrito
E num bocejo imenso engoliria o mundo;
É o Tédio! - O olhar esquivo à mínima emoção,
Com patíbulos sonha, ao cachimbo agarrado.
Tu conheces, leitor, o monstro delicado
- Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão!
Charles Baudelaire
A tolice, o pecado, o logro, a mesquinhez
Habitam nosso espírito e o corpo viciam,
E adoráveis remorsos sempre nos saciam,
Como o mendigo exibe a sua sordidez.
Fiéis ao pecado, a contrição nos amordaça;
Impomos alto preço à infâmia confessada,
E alegres retornamos à lodosa estrada,
Na ilusão de que o pranto as nódoas nos desfaça.
Na almofada do mal é Satã Trimegisto
Quem docemente nosso espírito consola,
E o metal puro da vontade então se evola
Por obra deste sábio que age sem ser visto.
É o Diabo que nos move e até nos manuseia!
Em tudo o que repugna uma jóia encontramos;
Dia após dia, para o Inferno caminhamos,
Sem medo algum, dentro da treva que nauseia.
Assim como um voraz devasso beija e suga
O seio murcho que lhe oferta uma vadia,
Furtamos ao acaso uma carícia esguia
Para espremê-la qual laranja que se enruga.
Espesso, a fervilhar, qual um milhão de helmintos,
Em nosso crânio um povo de demônios cresce,
E, ao respirarmos, aos pulmões a morte desce,
Rio invisível, com lamentos indistintos.
Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.
Em meio às hienas, às serpentes, aos chacais,
Aos símios, escorpiões, abutres e panteras,
Aos monstros ululantes e às viscosas feras,
No lodaçal de nossos vícios imortais,
Um há mais feios, mais iníquo, mais imundo!
Sem grandes gestos ou sequer lançar um grito,
Da Terra, por prazer, faria um só detrito
E num bocejo imenso engoliria o mundo;
É o Tédio! - O olhar esquivo à mínima emoção,
Com patíbulos sonha, ao cachimbo agarrado.
Tu conheces, leitor, o monstro delicado
- Hipócrita leitor, meu igual, meu irmão!
Charles Baudelaire
a primeira explicação sobre a subjetividade
13/02/2017 ~ 08:00h
- Você está triste?
- Não estou triste, mamãe.
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