segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Julieta


e lá vem ele
já não consegue esconder tanta feminibilidade
almodóvar!

eu já não vou muito bem
há tanto tumulto dentro de mim
que já já transbordo
e não faço ideia do que acontecerá
ontem, por um triz, eu não transbordei

o filme apresenta uma mulher linda
inteligente e humana
cheia de medos e confusões
a vida parece-lhe testar
sem piedade, sem explicação

primeiro sua impaciência
suicida um homem desconhecido
em seguida
seu ciúme coloca o homem da sua vida
na berlinda da vida. e ele vai
mas por sorte ou azar
ele deixa uma filha
amorosa, cuidadosa, linda
e apaixonada pela vida
e ela a abandona

antes a tivesse matado

é sofrimento de grosso calibre
do início ao fim

no entanto, a clareza com que trata
aquilo que é inevitável
chega ser irritante
e por várias vezes eu pensei:
essa mulher que vive em almodóvar
é a mesma que vive em mim

como a dor de chico buarque
que parece tanto com a minha

almodóvar não entrega nada inédito
a condição humana, o sofrimento e o peso da existência
as relações secretas, tão necessárias quantas as públicas
e expõem a inexorabilidade do amor

o amor nada tem haver com a moral
o amor tem haver com a vida
que ignora a moral e exige cumprimento
daquilo que ninguém concordou
como tudo aquilo que não se explica
o tesão, a paixão, o afeto, a ausência e a saudade
tudo que impulsiona, retrai

almodóvar nos entrega suas cores
que, para mim, são as nossas fantasias
para deixar a vida mais suportável
a vida é dura como uma rocha
as causas-consequências são seus fluxos
frios e letais. nada passa ileso
só nos resta a arte, para apimentar essa salada sem sabor

só nos resta pôr cor nesse mundo cinza
de emoções cinzas, de fatos escuros

só nos resta a gentileza de quem nos quer mal
ou daqueles que querem apenas sorrir no final
por que as lágrimas... ahh, elas não nos faltarão

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