Poema em linha reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado [sem pagar],
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Fernando Pessoa
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
Bulas
Hoje eu sinto que senti
Mas não lembro o que foi
As pessoas passando por mim
Sem cara, sem coração, sem emoção
Por mim, pois para elas ainda é tempestade.
As ruas da cidade seguem frias
Estamos sempre querendo menos multidão
Qualquer lugar em que eu não tenha que me esquivar
Qualquer lugar onde olhares sinceros possam se encontrar
Sem o constrangimento de serem desconhecidos, sendo.
Eu penso que sinto mais que os outros
Até que me passa um pedinte
e então, a pena
Que pena tenha dos miseráveis
Eu sei do que se trata a miséria
Eu pelo menos sinto a miséria
Cheguei na fase em que se aprende a calar
Ainda não controlo o desdém do meu olhar reprovador
Ainda penso em reprovar
Como seu eu fosse o professor
Eu sou, sim, um grande miserável
O miserável quer nada mais que humilhar
Ele humilha com o seu sofrimento
Ele humilha com o seu olhar
Com o seu cheiro
Ele nos faz lembrar que somos tal como ele
Homens. Mesmo higienizados.
Minha miséria é a sede insaciável de curar
Que engraçado, eu ainda sofro numa cama de hospital
Mas eu sei o que é curar
Eu sei como curar.
Só não aprendi escrever bulas.
Mas não lembro o que foi
As pessoas passando por mim
Sem cara, sem coração, sem emoção
Por mim, pois para elas ainda é tempestade.
As ruas da cidade seguem frias
Estamos sempre querendo menos multidão
Qualquer lugar em que eu não tenha que me esquivar
Qualquer lugar onde olhares sinceros possam se encontrar
Sem o constrangimento de serem desconhecidos, sendo.
Eu penso que sinto mais que os outros
Até que me passa um pedinte
e então, a pena
Que pena tenha dos miseráveis
Eu sei do que se trata a miséria
Eu pelo menos sinto a miséria
Cheguei na fase em que se aprende a calar
Ainda não controlo o desdém do meu olhar reprovador
Ainda penso em reprovar
Como seu eu fosse o professor
Eu sou, sim, um grande miserável
O miserável quer nada mais que humilhar
Ele humilha com o seu sofrimento
Ele humilha com o seu olhar
Com o seu cheiro
Ele nos faz lembrar que somos tal como ele
Homens. Mesmo higienizados.
Minha miséria é a sede insaciável de curar
Que engraçado, eu ainda sofro numa cama de hospital
Mas eu sei o que é curar
Eu sei como curar.
Só não aprendi escrever bulas.
sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
Mataram o ministro em 19/01/2017
Ontem a corrupção assassinou um ministro do supremo. Ninguém menos que o relator da Lava Jato.
Vou ter de adimitir: eu sempre escolho os jogadores mais fracos achando com toda a certeza tipicamente minha de que ele é o melhor. A partida começa e eu percebo que errei mais uma vez.
Hoje acessei as redes sociais certa de que meu povo estaria indignado, articulando uma reação vigorosa a mais esse golpe. Mas não. Hoje, ao que tudo indica, é um dia normal para a maioria do brasileiros.
Entre memes infantis que não dizem nada e algumas selfies eu escolhi o gif abaixo. Estava na página de um amigo de trabalho politicamente consciente. Ele também não gosta dessa gente que eu odeio. Ele também pensa em salvar o Brasil. Ele apoia o "Somos todos Sérgio Moro". Enfim. Mais um dia onde meu pranto berra silencioso e solitário. Mas o gif uma hora vai me animar. Eu tenho fé.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2017
O ímpeto de vida só vem do amor... seja qual for
Ausência
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Vinicius de Moraes
quinta-feira, 12 de janeiro de 2017
Eu ainda escolho a loucura
Eu não tenho nada para oferecer a ninguém, exceto minha própria confusão.
Ofereça à eles aquilo que mais desejam secretamente; e é claro que entrarão em pânico.
Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam.
Porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e jamais dizem coisas comuns, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício, explodindo como constelações em cujo centro fervilhante — pop — pode-se ver um brilho azul e intenso até que todos “aaaaaaah!”
Jack Kerouac
Eu os desprezo
Ana Cabral
Ofereça à eles aquilo que mais desejam secretamente; e é claro que entrarão em pânico.
Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam.
Porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam e jamais dizem coisas comuns, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício, explodindo como constelações em cujo centro fervilhante — pop — pode-se ver um brilho azul e intenso até que todos “aaaaaaah!”
Jack Kerouac
Eu os desprezo
Ana Cabral
sexta-feira, 6 de janeiro de 2017
quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
Convite à existência que vale a pena
Ao destravar a chave, abre-se um universo de conhecimento e o infinito se aproxima a fim de tomar um chá.
Neste momento, são três as possibilidades que lhe ocorrem: fugir em pânico, pedir licença para ficar de pé ou sentar-se à mesa e adicionar limão ao chá.
Mas se porventura você escolher aproveitar esta tarde de outono, com os cabelos ao vento frio e os pés descobertos, saiba que o mundo irá lhe perseguir por esta escolha estúpida.
Você será observado o tempo todo, pelo pavor e a piedade daqueles que, de repente, encontram-se diante de um animal fugido do zoológico em plena avenida brasil.
E se ousares grunhir, serás atacado por toda sorte de objetos que objetivam te desacordar, ou, na melhor das hipóteses, te assassinar.
O que querem os espancadores de bandidos pretos? Eliminar o mal.
Neste momento, são três as possibilidades que lhe ocorrem: fugir em pânico, pedir licença para ficar de pé ou sentar-se à mesa e adicionar limão ao chá.
Mas se porventura você escolher aproveitar esta tarde de outono, com os cabelos ao vento frio e os pés descobertos, saiba que o mundo irá lhe perseguir por esta escolha estúpida.
Você será observado o tempo todo, pelo pavor e a piedade daqueles que, de repente, encontram-se diante de um animal fugido do zoológico em plena avenida brasil.
E se ousares grunhir, serás atacado por toda sorte de objetos que objetivam te desacordar, ou, na melhor das hipóteses, te assassinar.
O que querem os espancadores de bandidos pretos? Eliminar o mal.
terça-feira, 3 de janeiro de 2017
Negligência diante do ímpeto de barbárie intelectual, social e afetiva.
Um dia, estava Zaratustra a dormitar sob uma figueira, porque fazia calor e tinha tapado o rosto com o braço.
Nisto chegou uma víbora, mordeu-lhe o pescoço e ele soltou um grito de dor.
Afastando o braço do rosto, olhou a serpente e ela reconheceu os olhos de Zaratustra, contorceu-se vagarosamente e quis se retirar.
"Não - disse Zaratustra - espera, ainda não te agradeci!
Despertaste-me a tempo, pois o meu caminho ainda é longo".
Nisto chegou uma víbora, mordeu-lhe o pescoço e ele soltou um grito de dor.
Afastando o braço do rosto, olhou a serpente e ela reconheceu os olhos de Zaratustra, contorceu-se vagarosamente e quis se retirar.
"Não - disse Zaratustra - espera, ainda não te agradeci!
Despertaste-me a tempo, pois o meu caminho ainda é longo".
A Sagrada Hipocrisia
Eu nunca vi uma igreja trabalhando para acabar com os bordéis.
Perto da minha casa existe um puteiro ao lado de uma assembleia de deus, inclusive dividem
o mesmo estacionamento.
o mesmo estacionamento.
Quando passo em frente eu nunca sei o que me incomoda mais:
meu conservadorismo com os hábitos sexuais ou minha aversão à hipocrisia.
Chuva no acompanhamento, e não é verão
Pois é, não deu
Mais um ciclo se encerrando e esse está doendo muito.
Ontem voltando para casa eu pude ver tudo o que me espera, mas a renúncia ao que está estabelecido é o passo mais difícil.
Por sorte, ela facilitou. Deu mais uma palhinha de tudo aquilo que eu não aceito mais.
Certa vez ela me disse: "há coisas que não mudam nunca". O tipo de frase que dá um frio na espinha.
Não poder mudar é a maior maldição que alguém pode receber.
Quando Bourdieu apresenta seu capital simbólico ele anuncia esta maldição aos desavisados: não vai mudar. E desde então eu venho buscando a antítese, em vão.
Em Jó 38:11, deus diz: "Até aqui virás, e não mais adiante".
Esta sentença é ainda pior que o diagnóstico de poucos dias de vida. Já vi pessoas desmentirem os médicos. Mas por enquanto, deus está com a razão.
Passei os últimos dias experimentando o pior dos sentimentos: ódio, rancor, raiva, desprezo, decepção...
Tudo descia com aquele amargor característico. A cada vitimismo eu sentia meu corpo ferver.
Lembrei da violência que é a minha própria natureza e, mesmo com consciência, eu queria a estupidez. Eu a escolhi em todas as vezes.
Parece remédio amargo: Não quis ver por bem, então irá experimentar o que há de pior no mundo.
Ahh o mundo. Ele também é um remédio amargo.
Convivo com tantos demônios que eu já me acostumei.
No entanto, não gosto de recebê-los em casa.
Veem sempre com muita sujeira... difícil de limpar.
Dias difíceis. Devo ter sido um estorvo para todos.
No carro de volta, havia tanta coisa ruim em mim que pensei em implorar ao tal deus para poupá-los do que eu poderia atrair.
Eu vi meu ego pular alto. Senti meu desprezo pela vida me beijar a boca.
Minha mente estava tão lúcida e tão potente. Potência de morte.
Tudo era tão escuro. Eu era o próprio diabo. E para variar, foi ele quem me acompanhou em vigília.
Mas foi bom: me libertou de algumas ilusões.
A ilusão de tentar mudar quem não vai mudar.
De ignorar o mal que o outro me faz chamando isso de jogo de prazer.
De aceitar relações rasas onde só eu imploro e sinto algo com alguma importância.
Deixar de conviver com o lamento de ser tudo superficial.
Deixar de fingir que não vejo o grande mal entendido que é isso tudo.
A cura dela trouxe também a cura do resto. Mandei tudo para o inferno.
Não venham roubar minha solidão. Eu ainda sou minha melhor companhia.
Talvez eu precise fugir para bem longe.
Preciso ficar longe dela e de todos aqueles tantos mentirosos
Cá estou. De novo, de malas prontas. Talvez não haja tanto pranto. Afinal, me acostumei a partir.
Não sinto raiva. Isso eu tenho de bom. Sei amar quem sempre amei. Não esqueço do que causou encantamento.
Mas o que começa a putrefazer precisa ser enterrado.
Vejam como o mal cheiro espalha rápido.
Mais um ciclo se encerrando e esse está doendo muito.
Ontem voltando para casa eu pude ver tudo o que me espera, mas a renúncia ao que está estabelecido é o passo mais difícil.
Por sorte, ela facilitou. Deu mais uma palhinha de tudo aquilo que eu não aceito mais.
Certa vez ela me disse: "há coisas que não mudam nunca". O tipo de frase que dá um frio na espinha.
Não poder mudar é a maior maldição que alguém pode receber.
Quando Bourdieu apresenta seu capital simbólico ele anuncia esta maldição aos desavisados: não vai mudar. E desde então eu venho buscando a antítese, em vão.
Em Jó 38:11, deus diz: "Até aqui virás, e não mais adiante".
Esta sentença é ainda pior que o diagnóstico de poucos dias de vida. Já vi pessoas desmentirem os médicos. Mas por enquanto, deus está com a razão.
Passei os últimos dias experimentando o pior dos sentimentos: ódio, rancor, raiva, desprezo, decepção...
Tudo descia com aquele amargor característico. A cada vitimismo eu sentia meu corpo ferver.
Lembrei da violência que é a minha própria natureza e, mesmo com consciência, eu queria a estupidez. Eu a escolhi em todas as vezes.
Parece remédio amargo: Não quis ver por bem, então irá experimentar o que há de pior no mundo.
Ahh o mundo. Ele também é um remédio amargo.
Convivo com tantos demônios que eu já me acostumei.
No entanto, não gosto de recebê-los em casa.
Veem sempre com muita sujeira... difícil de limpar.
Dias difíceis. Devo ter sido um estorvo para todos.
No carro de volta, havia tanta coisa ruim em mim que pensei em implorar ao tal deus para poupá-los do que eu poderia atrair.
Eu vi meu ego pular alto. Senti meu desprezo pela vida me beijar a boca.
Minha mente estava tão lúcida e tão potente. Potência de morte.
Tudo era tão escuro. Eu era o próprio diabo. E para variar, foi ele quem me acompanhou em vigília.
Mas foi bom: me libertou de algumas ilusões.
A ilusão de tentar mudar quem não vai mudar.
De ignorar o mal que o outro me faz chamando isso de jogo de prazer.
De aceitar relações rasas onde só eu imploro e sinto algo com alguma importância.
Deixar de conviver com o lamento de ser tudo superficial.
Deixar de fingir que não vejo o grande mal entendido que é isso tudo.
A cura dela trouxe também a cura do resto. Mandei tudo para o inferno.
Não venham roubar minha solidão. Eu ainda sou minha melhor companhia.
Talvez eu precise fugir para bem longe.
Preciso ficar longe dela e de todos aqueles tantos mentirosos
Cá estou. De novo, de malas prontas. Talvez não haja tanto pranto. Afinal, me acostumei a partir.
Não sinto raiva. Isso eu tenho de bom. Sei amar quem sempre amei. Não esqueço do que causou encantamento.
Mas o que começa a putrefazer precisa ser enterrado.
Vejam como o mal cheiro espalha rápido.
A mulher que o mundo construiu
Antigamente, bem antigamente, as mulheres eram os seres mais sagrados dentro de uma tribo ou comunidade.
Porque elas geravam a VIDA. Só elas.
Nas sociedades mais primordiais a sexualidade era instintiva e resumindo: todo mundo transava com todo mundo. Ninguém era de ninguém. E as mulheres engravidavam e seus filhos eram de todos, criados pela aldeia.
Por muito tempo os homens não sabiam que tinham participação naquilo que era então visto como algo sobrenatural, um presente dado pelos deuses e as mulheres seu abençoado meio.
Em algum momento, porém, os homens perceberam que a mulher não engravidava sem eles. Foi mais ou menos na mesma época em que foram deixando de ser nômades, passaram a se instalar fixamente em um lugar e a partir dai surgiu a propriedade privada. E com ela a noção de herança. E com ela a necessidade dos caras de assegurarem sua prole. Mas como eles poderiam saber se um filho é dele? A mulher sabe que o filho dela mas e o homem? Só havia uma forma: se a mulher só transasse com ele e mais ninguém. E a partir dai surgiu o casamento, a monogamia, o patriarcado e o conceito de propriedade se estendeu às mulheres.
Aos poucos foram trancadas em casa, servindo apenas a função de gerar e cuidar da prole. A história que a gente já conhece. Para garantir a submissão em várias esferas a mulher foi diminuída e reprimida. Sua sexualidade considerada pecado, até mesmo se tocar, até mesmo pensar nisso. A mulher deve se cobrir, se esconder. Sua vagina é horrível, fedida, a menstruação suja. Nojenta. Impura. Feia.
Menstruação.
Será que existe algo mais feminino que isso?
Será que existe algo mais natural para uma mulher do que menstruar?
E quantas opressões existem em torno disso?
Por quanto tempo tivemos vergonha de menstruar. Vergonha de pedir um absorvente. Em muitas culturas a mulher "naqueles dias" (ate a palavra era evitada) não saia de casa e seu estado era limitante a coisas inusitadas como lavar a cabeça, comer determinados alimentos, fazer sexo e outras atividades, dizia-se certas coisas azedavam se manipuladas por mulheres menstruadas.
O que era benção virou maldição, o que era normal virou obviamente um incômodo. Algo indesejado.
Quando surgiram medicamentos capazes de controlar e ate mesmo nos livrar daquilo a adesão foi enorme. A desagradável obrigação de menstruar junto com tantas outras coisas fez com que muitas mulheres odiassem ser mulher. Quantas vezes ja ouvimos mulheres bradarem desejar ter nascido homem?!
A história da desconexão da mulher com seu feminino não aconteceu em pouco tempo, levou anos, séculos.
Mas hoje estamos voltando.....
As mulheres estão falando sobre isso em suas rodas, desejam sentir seu corpo, conhecer seu ciclo natural sem influência de hormônios externos, se olharem e se amarem como são. Naturalmente.
É mais fácil ser homem? Num mundo machista como o nosso parece que sim.
Mas ja podemos olhar para o organismo de alta complexidade que é a mulher, tanto em nível físico quanto emocional, seus pensamentos amplos, sua profundidade, sensibilidade e intuição.... e admirar imensamente.... Achar lindo, muito lindo.....
Eu tenho orgulho de ser mulher.
Eu amo ser mulher.
Eu não queria ter nascido homem.
E você?
Fonte: Ginecologia Natural
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