Hoje eu sinto que senti
Mas não lembro o que foi
As pessoas passando por mim
Sem cara, sem coração, sem emoção
Por mim, pois para elas ainda é tempestade.
As ruas da cidade seguem frias
Estamos sempre querendo menos multidão
Qualquer lugar em que eu não tenha que me esquivar
Qualquer lugar onde olhares sinceros possam se encontrar
Sem o constrangimento de serem desconhecidos, sendo.
Eu penso que sinto mais que os outros
Até que me passa um pedinte
e então, a pena
Que pena tenha dos miseráveis
Eu sei do que se trata a miséria
Eu pelo menos sinto a miséria
Cheguei na fase em que se aprende a calar
Ainda não controlo o desdém do meu olhar reprovador
Ainda penso em reprovar
Como seu eu fosse o professor
Eu sou, sim, um grande miserável
O miserável quer nada mais que humilhar
Ele humilha com o seu sofrimento
Ele humilha com o seu olhar
Com o seu cheiro
Ele nos faz lembrar que somos tal como ele
Homens. Mesmo higienizados.
Minha miséria é a sede insaciável de curar
Que engraçado, eu ainda sofro numa cama de hospital
Mas eu sei o que é curar
Eu sei como curar.
Só não aprendi escrever bulas.
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