terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Chuva no acompanhamento, e não é verão

Pois é, não deu
Mais um ciclo se encerrando e esse está doendo muito.
Ontem voltando para casa eu pude ver tudo o que me espera, mas a renúncia ao que está estabelecido é o passo mais difícil.
Por sorte, ela facilitou. Deu mais uma palhinha de tudo aquilo que eu não aceito mais.
Certa vez ela me disse: "há coisas que não mudam nunca". O tipo de frase que dá um frio na espinha.
Não poder mudar é a maior maldição que alguém pode receber.
Quando Bourdieu apresenta seu capital simbólico ele anuncia esta maldição aos desavisados: não vai mudar. E desde então eu venho buscando a antítese, em vão.
Em Jó 38:11, deus diz: "Até aqui virás, e não mais adiante".
Esta sentença é ainda pior que o diagnóstico de poucos dias de vida. Já vi pessoas desmentirem os médicos. Mas por enquanto, deus está com a razão.

Passei os últimos dias experimentando o pior dos sentimentos: ódio, rancor, raiva, desprezo, decepção...
Tudo descia com aquele amargor característico. A cada vitimismo eu sentia meu corpo ferver.
Lembrei da violência que é a minha própria natureza e, mesmo com consciência, eu queria a estupidez. Eu a escolhi em todas as vezes.
Parece remédio amargo: Não quis ver por bem, então irá experimentar o que há de pior no mundo.

Ahh o mundo. Ele também é um remédio amargo.

Convivo com tantos demônios que eu já me acostumei.
No entanto, não gosto de recebê-los em casa.
Veem sempre com muita sujeira... difícil de limpar.

Dias difíceis. Devo ter sido um estorvo para todos.
No carro de volta, havia tanta coisa ruim em mim que pensei em implorar ao tal deus para poupá-los do que eu poderia atrair.
Eu vi meu ego pular alto. Senti meu desprezo pela vida me beijar a boca.
Minha mente estava tão lúcida e tão potente. Potência de morte.
Tudo era tão escuro. Eu era o próprio diabo. E para variar, foi ele quem me acompanhou em vigília.
Mas foi bom: me libertou de algumas ilusões.

A ilusão de tentar mudar quem não vai mudar.
De ignorar o mal que o outro me faz chamando isso de jogo de prazer.
De aceitar relações rasas onde só eu imploro e sinto algo com alguma importância.
Deixar de conviver com o lamento de ser tudo superficial.
Deixar de fingir que não vejo o grande mal entendido que é isso tudo.

A cura dela trouxe também a cura do resto. Mandei tudo para o inferno.
Não venham roubar minha solidão. Eu ainda sou minha melhor companhia.

Talvez eu precise fugir para bem longe.
Preciso ficar longe dela e de todos aqueles tantos mentirosos
Cá estou. De novo, de malas prontas. Talvez não haja tanto pranto. Afinal, me acostumei a partir.

Não sinto raiva. Isso eu tenho de bom. Sei amar quem sempre amei. Não esqueço do que causou encantamento.
Mas o que começa a putrefazer precisa ser enterrado.
Vejam como o mal cheiro espalha rápido.

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